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Por dento do Museu do Amanhã

Já imaginou como é visitar um museu sem objetos materiais? Um dos museus mais visitados do Brasil? E ainda por cima, no meio da pandemia?


Fui ao Museu do Amanhã no meio de 2021, a pandemia ainda estava assustando o Brasil e o mundo, mas alguns estados e municípios já estavam relaxando as regras sanitárias. Então, lá fui eu experimentar o museu.

O Museu do Amanhã é um museu de ciências diferente. Um ambiente de ideias, explorações e perguntas sobre a época de grandes mudanças em que vivemos e os diferentes caminhos que se abrem para o futuro. (museu do amanhã)

O museu está no Porto Maravilha, área reurbanizada para as Olimpíadas de 2016. Aliás, o Museu do Amanhã é o exemplo brasileiro da chamada "arquitetura midiádica". Aquela arquitetura desenhada por grandes nomes, para promoção turística de uma cidade.


Esta aí é a fachada (ok, é fundos... mas é a parte mais bonita), projeto do Santiago Calatrava,um dos meus arquitetos preferidos. Então, a experiência começa na entrada, ou melhor, antes de entrar no prédio.


O Museu do Amanhã discute sobre o amanhã, pensando na sustentabilidade e diversidade, que pode ser diversidade de espécies (homens convivendo com fauna e flora) e diversidade social (culturas diferentes convivendo entre si). Então, o prédio, as ações em torno dele e a equipe do museu refletem essa narrativa.

Aqui é o segundo piso e onde começa a história. Por causa da pandemia, o fluxo no museu está contínuo, então, você é direcionado para entrar pala lateral desse domo preto. Fica de cara com o globo de LED que exibe informações sobre o planeta. Quando fica de frente para o globo, o visitante dá as costas para o domo (repara que o globo está refletido no meio do domo). Então, para seguir a visita, fique de costas para o globo e entra no domo, chamado Portal Cósmico! Não parece um planeta em orbita com o globo de LED da Terra? Para a curadoria é ovo onde começa a vida. Aqui a história começa com a pergunta "de onde viemos?"


A experiência ali é fantástica! dentro o espaço é uma sala branca, que exibe um vídeo em 360º (dica: veja o vídeo deitado, é muito mais interessante), que fala do início da vida - daí a ideia do ovo. (veja um pedacinho do vídeo da O2 aí abaixo)

Pensa como é você ficar envolvido nestas imagens! Arrepio, palpitação, parece que você faz parte do vídeo. Em seguida, já segue para Horizontes Cósmicos, a segunda parada. Esse é um grupo de 6 totens redondinhos que lembram planetas em torno do sol (olha a figura aí embaixo). Cada totem trata de um tema do cosmos e exibe informações em hiperlinks, mas só se você tiver o cartão da IRIS, ele é que ativa as telas do totem.

Aliás, repara no totem aí ao lado, que ele é composto de duas telas e um símbolo à direita. O símbolo é um sensor que lê o cartão e libera a tela. A tela de cima, fica exibindo um vídeo em looping com o nome do totem. Essa é uma técnica muito utilizada no design de exposições, pois vídeos chamam atenção.

A tela inferior é touch então, assim que você ativa com o cartão, ela exibe botões de menu. Neste caso, eu abri o totem da velocidade e descobri a velocidade da luz, dos ventos de rotação da terra e até do pensamento.

Quem estiver usando o aplicativo consegue usar a realidade aumentada neste ponto e ver o domo virar sol (por isso que eu acho que o domo não é um ovo)


Próxima parada Terra! Que aqui é formada por 3 cubos: o primeiro é matéria, a fachada é formada por fotos da terra tiradas pela Nasa e quando você se aproxima do cubo, ouve as vozes da equipe em terra e do cosmonauta Gagarin. Lá dentro uma instalação e o lembrete que os movimentos da Terra influenciam marés e ventos.

O segundo cubo é vida e exibe um DNA real na fachada - isso, as letrinhas brancas são um código de DNA. Lá dentro círculos decoram as paredes, mostrando a diversidade de fauna e flora do planeta e quando somos interdependentes. O último cubo é o pensamento, que por fora é um grande telão de LED que exibe as sinapses. Lá dentro, vários totens mostram cenas do cotidiano e conjuntos de vozes, falando os vários idiomas do mundo. Agora vamos lá, está vendo que tem umas bancadas ao lado das entradas dos cubos? Cada uma dessas bancadas tem jogos, vídeos com conteúdo extra, gráficos e infográficos. Escolha o tema que mais lhe agrada e se profunda ali! Eu escolhi o cérebro, joguei um quizz e descobri que o cérebro pesa em torno de 1.200gr.

Hora de seguir para a seção Antropoceno, um conjunto de obeliscos instalados em círculo, com 10m de altura (dá um prédio com cerca de 3 andares). Cada obelisco é formado por telas de LED, que exibem números atuais do impacto do homem na terra. O público fica bem no meio dessa estrutura, o que faz parecer que vai ruir tudo sobre nossas cabeças (estrutura e números) - dá uma olhada no vídeo ao lado.


Agora repare que na parte inferior da estrutura tem uns túneis.

Cada túnel tem três telas de LED (acionadas pela IRIS) e assim, cada tela abre mais conteúdo. São fotos, documentos digitalizados, números. Eu escolhi a tela sobre os inventos da humanidade e pude ver inúmeras fotos de inventos e inventores em uma linha do tempo. Se você é uma pessoa curiosa, vai gastar um tempão aí. É aqui que o museu te mostra "onde estamos?" mas lembre-se, estamos bem no meio da exposição e tem mais coisa para ver.

Até aqui o público recebe informação, muita informação. Agora é hora de agir! Esta vendo essa bancada aí no meio? Ela tem várias telas interativas. Você até consegue jogar sozinho, mas é mais interessante em grupo.

Repara na segunda foto que existe uma tela central e várias telinhas menores (elas estão nos dois lados).

Por exemplo, no jogo da sociedade, uma das telinhas desafia o visitante a fazer investimentos em energia para uma cidade. A outra é para água e assim por diante. Os seus gastos aparecem na tela do meio e "roubam" o investimento de quem esta em outra tela.

Já entendeu, né? Quando joga em equipe, fica muito mais interessante.

São 3 ambientes e 3 jogos. Vale a pena tentar todos, fiquei um tempão brincando nessas telas. Ah! A IRIS abre os jogos e registra suas informações. Só senti falta de receber um retorno dela depois da exposição, com meu histórico em cada mesa.


Saindo da área Amanhãs, chegamos em Nós, o espaço de reflexão. Aliás, o espaço mais lindo do museu e o que mais exige interpretação. Então, me acompanha aqui para entender todas!

A estrutura é chamada de "oca", pois foi inspirada na oca Tupi Guarani e aí está o primeiro item a ser interpretado. A oca indígena é o ponto de encontro de toda a tribo, um lugar onde são trocadas ideias e onde acontece o aprendizado.


Agora reparando nas cores das luzes, elas se transformam. Vão do azul ao magenta, passando por laranja e amarelo. A luzes representam o movimento do sol, do amanhecer ao anoitecer


Elas também indicam que sempre há um novo amanhã

Não vá embora ainda, vamos falar da Churinga. É este artefato aí bem no meio, espetado no móvel circular. A churinga representa o encontro de gerações e a transmissão do conhecimento. Além disso, no museu ela também indica que o que fazemos hoje, se reflete na próxima geração. E por falar em refletir, vamos falar da parte que eu mais gostei.

Na estrutura tem estas bolotinhas aí, são caixas de som. Estas caixas estão conectadas a um sistema com sensor de presença. Quando entramos na oca, uma música ambiente fica tocando suavemente e, conforme mais pessoas vão entrando, a intensidade aumenta. Quando as pessoas se movimentam, a música acelera e quando alguém se movimenta no espaço, o som segue a pessoa até a saída. Isso é para nos lembrar que um interfere na vida do outro, ou seja, todo mundo influencia no ambiente.



Como a IRIS+ estava desligada, o negócio foi terminara visita no Boulevard. Aliás, sabia que no projeto original o percurso era invertido? Entrava pela baía e saía na praça Mauá. Mas então, a curadoria decidiu trocar e hoje o público entra pela praça e sai na baía. A ideia é colocar o visitante por cima da Baía de Guanabara, na fachada envidraçada, como um Big Brother que observa a vida acontecer ali. De olho no horizonte, a vista te lembra que você também é responsável pelo meio ambiente. Aliás, neste ponto dá para apontar o celular e ter a experiência em realidade aumentada, que coloca animais marinhos na Baía de Guanabara. Então, o museu te entrega esta vista maravilhosa e a narrativa tem um desfecho feliz.


Resultados

No Museu do Amanhã o visitante é convidado a partir em busca de soluções para um futuro melhor e sustentável e sua jornada começa no Portal Cósmico, onde são introduzidos os temas da gênese do universo. Em seguida, o público é apresentado aos coadjuvantes e ajudantes da busca, os totens interativos que, tais como mentores, entregam as informações de maneira gradativa até que o protagonista coloca seu conhecimento à prova em Amanhãs. Assim, segue para reflexões e intercâmbio na oca do saber e encontra um desfecho estimulante ao observar o horizonte.

A arquitetura do Museu do Amanhã comunica seus valores, seja na cobertura móvel, na reciclagem da água e até nos materiais construtivos, assim, o visitante mergulha nas temáticas de sustentabilidade e diversidade. Por isso, nesse museu a Media Architecture atua como coadjuvante na contação de histórias, conectando o visitante emocionalmente com as questões do universo e planeta. Em uma segunda via, a Media Architecture também colabora na entrega de conteúdo rico, para que o público possa se alimentar de informação para, no final do percurso, compreender seu papel como agente na sociedade.


Corpografia

Este diário faz parte da minha dissertação de mestrado, onde foi usada a técnica chamada de corpografia. Kevin Lync foi um dos pioneiros a tratar dessa técnica que ele chamava de "ponto de vista do observador". Junto com estes relatos e fotos, foram produzidos vários mapas, que resultaram em uma avaliação da experiência aliada ao uso das tecnologias para amplificação da narrativa museal.


Dados da Pesquisa

Autoria: Ângela Ferrari (ano 2022)

Dissertação: O uso da Media Architecture na Expografia da Sociedade em Rede: experienciando museus interativos

Orientador: prof. Dr. Márcio Vieira de Souza


Universidade Federal de Santa Catarina

Engenharia e Gestão do Conhecimento (área mídia do conhecimento)


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